Autoimagem é a visão que temos sobre nós mesmos.  O modo como nos enxergamos define como nos posicionamos diante da vida e molda, em parte, a noção de autoconfiança, equilíbrio e segurança, mas nem sempre é fácil perceber o poder da autoimagem sobre quem somos.

Em Branca de Neve, o espelho sempre mostra à bruxa aquilo que ela deseja ver. Talvez porque ela poderia quebrá-lo em caso de sinceridade. Assim, o espelho, coagido, escolhe a polidez e a bajulação como estratégia para se relacionar com a bruxa, e mostra a ela não aquilo que ele próprio vê, mas aquilo que lhe convém mostrar que ela seja.

Vejam a complexidade disso: a imagem que a bruxa tem de si é produzida pelo espelho, mas o espelho não arrisca mostrar à bruxa aquilo que vê. Ele distorce a imagem até que ela se torne adequada às suas intenções de não desagradá-la. Ao se enxergar bela, a bruxa vê no espelho um amigo. Engana-se. Não há amizade, há a covardia do espelho e a vaidade e opressão da bruxa. Uma relação de completo desencontro.

Na fábula, o exagero é um recurso fundamental. No entanto, pensemos um pouco sobre nossas próprias relações. Suponho, leitor, que não sejamos bruxas, nem você, nem eu. Contudo, no dia a dia, permitimos que os outros (que são nossos espelhos) contrariem nossas vaidades, livremente? Ou nos esforçamos para evitar isso?

O que a Branca de Neve tem a nos ensinar sobre autoimagem

Normalmente, reagimos mal àquilo que nos contraria e saudamos aquilo que nos exalta. Desse modo, pretendemos evitar as críticas e alimentar os elogios. Se extrairmos os exageros da fábula, podemos encontrar em nós alguns dos traços da bruxa. Não há maldade nisso, o fazemos de maneira irrefletida, para nos proteger.

Terapia é para quem quer se desenvolver

O espelho na fábula representa o outro em nossas próprias relações. É pelo outro que sabemos quem somos. Sentimos vergonha, por exemplo, quando reconhecemos a reprovação no olhar do outro. E nos orgulhamos quando esse mesmo olhar nos revela aprovação de nossa conduta. Eis a profundidade da presença do outro na constituição da nossa própria personalidade: a imagem que temos de nós é um produto direto das relações que estabelecemos com as pessoas à nossa volta.

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Tal como a bruxa e o espelho, nós também nos envolvemos em relações insatisfatórias. Às vezes as herdamos. E as consequências em nossa autoimagem podem ser devastadoras: a constante sensação de inferioridade é, talvez, o sintoma mais comum nesse caso. O papel do terapeuta, em um quadro assim é, em primeiro lugar, constituir com o paciente uma nova relação, ser para ele um novo espelho, inquebrável, capaz de produzir imagens mais verossímeis e nítidas. Nessa nova relação, se inicia um processo de restauração dos desgastes, de reintegração das partes.

A autoconfiança se desenvolve e o paciente se percebe mais forte para começar a produzir mudanças em suas antigas relações. Ele próprio muda. Sem que perceba, suas mudanças provocam mudanças. Suas fraquezas o assustam menos. Sua liberdade o assusta menos. A vida não o assusta mais.